Texto publicado na Revista Azimute:
Deixando de lado os problemas de relacionamento existente entre os principais organizadores do esporte, o Enduro a pé é um esporte que leva algumas desvantagens perante os demais. Ele está ainda sujeito a constantes alterações, tanto no regulamento como na forma de atuar dos organizadores.
Vamos analisar a parte técnica do esporte. A principal característica do Enduro a Pé é, sem dúvida alguma, a precisão! Para uma equipe vencer, ela precisa manter a regularidade. E para manter a regularidade, é preciso uma grande precisão nos cálculos dos tempos ideais, nas medidas de distância, no controle da velocidade e na tomada dos azimutes.
Atualmente, cada segundo de erro, seja por conta de um erro de arredondamento nos cálculos, erro na aferição da distância ou mesmo por conta de um breve momento de distração em que a equipe se atrasou ou se adiantou, pode ser decisivo para determinar a equipe vencedora. É isso que torna o nosso esporte emocionante.
Em minha opinião, os equipamentos de navegação tiraram um pouco desta emoção. Eles possibilitaram acumular funções que antes eram divididas entre todos os integrantes das equipes. Hoje, um único competidor, consegue “carregar” uma equipe nas costas e vencer uma prova. É por esse motivo que algumas organizações já estão tentando alterar seus regulamentos para possibilitar a existência de provas individuais. É por isso, também, que muitos organizadores precisam criar dificuldades extras, as famosas pegadinhas, para tornar as provas mais interessantes.
Os principais organizadores do esporte estão se profissionalizando e tornando o mercado cada vez mais competitivo. Porém, não existe ainda uma entidade que organize, fiscalize e controle as práticas dos organizadores com maior poder de fogo. O mercado brasileiro para o esporte é bastante amplo. Quem quiser se aventurar a organizar, certamente vai encontrar um nicho onde atuar.
Entretanto, quando encontramos mais de um organizador atuando em um mesmo mercado, não encontramos disputas das mais sadias. Parece existir uma tendência de destruir para reinar. Quando trabalho o Enduro a Pé para desenvolver as habilidades de espírito de equipe com os escoteiros, vejo uma grande diferença em relação aos demais competidores. Os jovens gostam também de competir, mas procuram competir, em geral, de forma honesta e leal, respeitando os adversários. O importante não é vencer a qualquer custo, mas ser considerado vencedor pelas demais equipes. Ser respeitado é o mais importante.
Tenho uma série de vantagens em relação aos demais organizadores. Meu público não envelhece! E não deixa que os vícios substituam os hábitos. Ele se renova todos os anos, mas o espírito de competição sadia se mantém. O staff que trabalha nos enduros escoteiros é basicamente voluntário, formado por idealistas que apostam no desenvolvimento do Enduro a Pé através da formação de jovens competidores com espírito elevado.
O que falta para colocar nosso esporte novamente nos eixos?
Organização!
Falta uma entidade que seja respeitada por todos, competidores e organizadores. Que tenha autoridade para decidir e atuar de forma transparente, impedindo as práticas abusivas e mal intencionadas e incentivando e promovendo o crescimento das organizações e de novas equipes.
Estamos muito longe de alcançar esse sonho?
Acredito que não.
Vejo alguns organizadores e competidores se mobilizando, buscando soluções. Vejo pessoas trabalhando bem intencionadas, procurando fazer a diferença, sensibilizando e criando motivação.
Muito em breve, tenho certeza de que teremos muitos motivos para comemorar!
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