segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Entrevista para a Revista Adventure Camp


Currículo no Enduro a Pé:

George Hideyuki Hirata - 44 anos, professor de Física e Orientação de Projetos do Colégio I. L. Peretz.
Fundador do CARAvANa - Clube dos Amigos Reunidos pela Aventura e Amor à Natureza, entidade que reúne praticantes de esporte de aventura desde 1986, tendo realizado atividades de trekking, hiking, rafting, espeleologia e escalada em rocha em diversas partes do mundo. Participa do Enduro a Pé desde 1996, competindo pela equipe CURTLO CARAvANa, tri-campeã paulista na categoria Graduados, tendo se mantido entre as top 10 do esporte durante 10 anos consecutivos. Foi a primeira equipe a completar participação em 100 provas de Enduro a Pé. Foi conselheiro da ABRAPEP - Associação Brasileira dos Praticantes de Enduro a Pé. Atua como colunista sobre o esporte nos portais da Webventure e da Revista Azimute. Atual presidente da FEPEP - Federação Paulista de Enduro a Pé e Trekking, organiza há cinco anos o Enduro Escoteiro, praticado por jovens escoteiros do estado paulista.

1) Como você conheceu o Enduro a Pé e por que resolveu começar a praticá-lo?

Durante o Natal de 1995, algumas lojas do shopping Eldorado anunciaram que haveria uma prova urbana de Enduro a Pé, durante o feriado paulistano de 25 de janeiro, aniversário da cidade, com largada no interior do shopping, percorrendo ruas de São Paulo, passando pela Avenida Paulista e pelo Parque do Ibirapuera. Reunimos alguns amigos, todos pertencentes ao CARAvANa – Clube dos Amigos Reunidos pela Aventura e Amor à Natureza, na época completando 10 anos de existência e resolvemos participar dessa prova. A partir dela, durante 12 anos consecutivos, competimos no mínimo uma vez por mês. Neste ano, paramos de competir para assumir a FEPEP – Federação Paulista de Enduro a Pé e Trekking.


2) Quais as vantagens e benefícios de participar de competições de Enduro a Pé?

Para vencer no Enduro a Pé é preciso manter a regularidade. Para isso, é necessário um bom trabalho de equipe, onde a divisão de tarefas é feita de acordo com as habilidades de cada integrante e a tomada de decisões deve ser conjunta. Em muitos momentos enfrentamos situações de estresse, onde vence a equipe que levar menos tempo para resolver os problemas. O esporte exige muito controle emocional, raciocínio rápido e facilidade de localização espacial. Além disso, possibilita a prática de exercícios físicos moderados em pleno contato com a natureza. Certamente é uma modalidade ideal para quem deseja investir em qualidade de vida ao mesmo tempo em que desenvolve diversas competências necessárias para aprimorar sua convivência social.




3) O Enduro a Pé pode ser praticado em qualquer idade e por qualquer pessoa? Qual a faixa etária que mais participa das competições? O que os leva a buscar o esporte?

Atualmente, temos competidores de todas as faixas etárias, a partir dos 12 anos de idade. Através de um trabalho conjunto da FEPEP e da UEB – União dos Escoteiros do Brasil utilizamos o Enduro a Pé como uma ferramenta para desenvolver o espírito das equipes escoteiras, mescladas de atividades que valorizam a cidadania, o respeito ao próximo, o aprender fazendo e aplicam os ensinamentos aprendidos durante as atividades escoteiras. Grupos da melhor idade também costumam aprovar o esporte como forma de lazer e prática coletiva de exercícios.
Em geral, devido à necessidade de um grau de maturidade elevado dos competidores, as equipes que alcançam os melhores resultados são formadas por integrantes cuja faixa etária varia entre 25 e 50 anos, embora existam equipes que fujam dessa regra.
Por se tratar de um esporte onde a regularidade determina a equipe vencedora, basta aos competidores que mantenham um mínimo de condicionamento físico, o suficiente para suportar de 3 a 4 horas de caminhada.
Acredito que o principal fator que leva uma pessoa a manter uma regularidade de participação seja a oportunidade de reunir os amigos em um local agradável, unindo o espírito esportivo com o lazer.

4) Qual a maior dificuldade que os atletas encontram ao participar das competições?

As dificuldades dependem do perfil de cada equipe. Comparando-se o Enduro a Pé com outros esportes de aventura, podemos afirmar que temos um dos níveis mais baixos de investimento. Entretanto, para as equipes formadas por jovens, nem sempre é fácil obter os recursos necessários para as despesas de viagem, alimentação e taxa de participação.
As equipes formadas por uma faixa etária superior, começam a encontrar dificuldade para planejarem o tempo. Compromissos profissionais e familiares acabam interferindo na regularidade das equipes.
Durante as competições, a maior dificuldade é conseguir uma equipe que atue de forma regular, estando presente em todas as etapas, desenvolvendo a melhor maneira de manter a regularidade.

5) Falando em organização, o que pode ser aprimorado e o que ainda precisa ser feito no Brasil?

Em termos de organização, há muito para ser feito. Atualmente, embora tenhamos um bom número de organizadores, temos poucos organizadores profissionais, que vivem exclusivamente do esporte. Em nosso meio, a falta ou o excesso de profissionalismo acaba prejudicando as relações entre as organizações.
Precisamos fortalecer as federações estaduais, criar laços entre elas e criar uma confederação nacional. A ausência de diretrizes que estabeleçam parâmetros a serem seguidos por todos, criou organizações independentes, onde cada um segue caminhos diferenciados.
Hoje, o Enduro a Pé está sendo muito utilizado no treinamento empresarial, desenvolvendo as habilidades gerenciais e de trabalho em equipe, promovendo a integração entre os funcionários. A aplicabilidade do esporte como ferramenta educacional também está sendo testada e aplicada em escolas e universidades, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Começamos a enfrentar um problema quando essas atividades tornam-se comerciais e a competição entre as organizações deixa de ser sadia, por simples falta de um órgão que administre essas relações. O esporte acaba levando a pior pois uma imagem negativa passa a ser difundida entre os praticantes.

6) O Enduro a Pé ajuda a melhorar o condicionamento físico dos atletas? Você acha que seria um esporte interessante para os praticantes de corrida de aventura? Por quê?

Para os praticantes mais conscientes, praticar o Enduro a Pé pode motivá-los a cuidarem de seu condicionamento físico. Na realidade, apenas uma pequena parcela realmente se preocupa em manter seu preparo físico em dia. Temos basicamente três tipos de praticantes, aquele que já possui o hábito de se cuidar, aquele que começa a se cuidar para ter um melhor desempenho nas competições e aquele que não se preocupa, uma vez que o esporte não exige um grande preparo. Para este último tipo de praticante, o esporte pode ser perigoso, uma vez que ele se restringe a uma prática de no máximo, uma vez por semana.
O Enduro a Pé pode ser interessante para praticantes de qualquer outra modalidade esportiva. Tudo depende dos objetivos do praticante. Para isso, as organizações oferecem no mínimo duas categorias com características distintas. Uma delas é destinada àqueles que gostam de disputas esportivas. Querem testar seus limites em termos de auto-controle e decisões rápídas. Querem vibrar com o desempenho de suas equipes. A outra categoria é oferecida para aqueles que querem apenas conhecer o esporte, ou desejam desfrutar de alguns momentos junto à natureza e aos amigos, praticando uma atividade agradável.

7) Você conhece algum atleta que pratique os dois esportes?

O perfil dos praticantes desses dois esportes é muito diferente. A corrida de aventura exige um grande preparo físico, vencendo aquele com maior resistência aliada à velocidade. Vence a equipe que administra melhor seus recursos, alcançando o objetivo antes das demais equipes. Além disso, o investimento e as despesas para a prática da corrida de aventura é muito superior às do Enduro a Pé. Conheci atletas que praticaram os dois esportes, porém sempre acabaram optando por apenas uma das modalidades.