Trabalhando o Enduro a Pé com estudantes e escoteiros, acabei chegando a uma triste conclusão a respeito do nosso querido esporte. Ele é extremamente entediante se não for muito bem adaptado aos interesses dos jovens. É isso mesmo! Ou o jovem se apaixona pelo esporte, ou ele se decepciona já no primeiro contato. Alguns organizadores perceberam isso até mesmo com seu público adulto.
Isso se deve a muitos fatores. Poucos jovens foram preparados para usufruir do contato com a natureza. Seus olhos não sabem admirar as paisagens naturais. Poucos percebem a energia que sentimos quando estamos no meio de uma mata, isolados do progresso, distantes dos problemas das cidades. Pouquíssimos tiveram a oportunidade de se emocionar enfrentando e vencendo obstáculos naturais, atravessando rios, subindo e descendo montanhas, atingindo cumes para vislumbrar horizontes.
Caminhar junto à natureza não é uma de suas opções favoritas de lazer ou de saúde. Computador, vídeo-game, ipod, televisão e outras tecnologias voltadas à diversão são fortes concorrentes na hora de escolher uma atividade para passar o tempo. Os jovens optaram pelas aventuras virtuais.
As atividades físicas não incluem caminhadas. No máximo uma esteira ou bicicleta ergométrica. Alguns privilegiados freqüentam clubes ou academias. Outros possuem seus próprios instrutores particulares. Caminhar não é considerado uma atividade nobre ou simplesmente está fora de moda. Ou ainda, não conseguem ser incluídas no planejamento familiar devido à tradicional falta de tempo.
Porém, a mais desagradável de todas as constatações que poderia ter feito é que os jovens não estão sendo formados pelas famílias e pelas escolas para trabalhar em equipes. A vida moderna acabou criando uma geração de educadores protetores, que não conseguem evitar o isolamento dos jovens do mundo real, enfatizando a sobrevivência e satisfação pessoal em detrimento do sucesso social.
Para tornar o Enduro a Pé agradável aos jovens participantes, primeiro temos que convencer os adultos dos benefícios que ele pode trazer. Mostrar que nosso esporte pode desenvolver diversas competências essenciais para a formação de cada indivíduo. Liderança, tomada de decisões em conjunto, divisão de tarefas e responsabilidades, comunicação, autocontrole, raciocínio lógico-matemático e perseverança são apenas algumas das habilidades que podem ser trabalhadas em uma prova de Enduro a Pé.
Além disso, as provas para os jovens não devem ser limitadas à manutenção da regularidade durante o percurso. Elas devem estar sempre recheadas de provas especiais, que além de exigir habilidades específicas, ofereçam oportunidades para que cada integrante contribua efetivamente para o sucesso de sua equipe.
Os enduros escoteiros devem apresentar provas especiais que verifiquem os conhecimentos desenvolvidos pelo próprio movimento escoteiro. Os enduros escolares devem trabalhar conteúdos pedagógicos de forma lúdica, integrada e divertida. A parceria entre o Enduro a Pé, os grupos escoteiros e as escolas é uma realidade a ser explorada pelos organizadores, com o intuito de criar uma nova geração de praticantes.